Encontro do dia 23 de Julho de 2024

  Visto que a greve afetou o treinamento da turma em geral e alguma pessoas novas chegaram para fazer a disciplina resolvemos dar um passo atrás e revisar os fundamentos.  Iniciamos a aula com um aquecimento individual em que alguns elementos musicais foram inseridos espontaneamente para marcar o pulso. Em cada batida do pulso realizávamos uma foto procurando explorar os fundamentos do movimento. Em seguida passamos para a diagonal trabalhando os fundamentos: 3 planos, 6 frentes, 6 andamentos, Esfera, linha, circularidade, fotos e tônicas musculares. Surpreendentemente a revisão durou pouco, pois vi que quase todos conseguiram retomar os fundamentos e realizarem improvisações muito interessantes no processo.


Um questionamento surgiu no decorrer da aula sobre o uso da narrativa linear na improvisação: Após a improvisação de duas participantes eu elogiei suas disponibilidades e em seguida orientei para não se deixarem levar por uma narrativa linear. Ao que uma delas questionou: Mas a narrativa não faz parte da criatividade da cena? Este questionamento remonta a diferenciação entre interpretação e sensibilização que o Hugo fazia. O que ele chamava de interpretar tinha relação com soluções muito intelectuais para problemas cênicos em detrimento da solução performática. Me parece que o uso da narrativa como mote de improvisação aproxima o participante da arte do dramaturgo (aquele que narra uma estória) ao mesmo tempo em que o afasta da arte do ator (aquele que faz). A abordagem huguiana para a improvisação, baseada na performance, favorece a arte do ator, pois nesta abordagem o que vale é o movimento e o som em detrimento da necessidade de contar uma estória que "faça sentido" literal. Essa estratégia normalmente gera resultados menos óbvios, pois proporciona um terreno fértil para possibilidades que não se encaixariam em um primeiro momento na logica da narrativa. Apesar de mais "fácil", em um primeiro momento, o recurso narrativo costuma restringir a criatividade do intérprete, pois o força para dentro de um molde regido pela lógica dramatúrgica. Já na abordagem performática o som e o movimento podem se criar e descriar livremente segundo lógicas ilógicas que se fundamentam muito mais com o que sentimos no momento da ação enquanto que o sentido "narrativo" da cena é criado na percepção do espectador e não na interpretação do ator.

Isto não é para criticar ou invalidar a abordagem narrativa (que tem muitos méritos por si mesma), mas apenas para evidenciar algumas de suas limitações para o desenvolvimento expressivo do artista cênico ao mesmo tempo em que experimentamos alternativas que consigam suprir essas deficiências.


Registros:

Parte 1:

https://youtu.be/XUcyC9nBgjc

Parte 2:

https://youtu.be/Aa2RUX8WOrg

Parte 3:

https://youtu.be/729qDC5E0Bk

Parte 4:

https://youtu.be/UJIew4deVgo


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